Estudo Bíblico: Resgate (Part. 4)

O Papel de Cristo Jesus Como Resgatador.

As informações precedentes lançam a base para se entender o resgate fornecido à humanidade por meio do Filho de Deus, Cristo Jesus. A necessidade de a humanidade ter um resgate surgiu da rebelião no Éden. Adão se vendeu para fazer o mal pelo prazer egoísta de continuar gozando da companhia de sua esposa, então uma transgressora pecaminosa, de modo que partilhou a mesma posição condenada perante Deus. Desta forma, vendeu a si mesmo e a seus descendentes à escravidão ao pecado e à morte, o preço exigido pela justiça de Deus. (Ro 5:12-19; compare isso com Ro 7:14-25.) Tendo possuído a perfeição humana, Adão perdeu este valioso bem para si mesmo e para toda a sua descendência.

A Lei, que tinha uma “sombra das boas coisas vindouras”, fazia provisão para sacrifícios animais como cobertura para os pecados. Isto, contudo, era apenas uma cobertura simbólica ou figurada, uma vez que tais animais eram inferiores ao homem; assim, ‘não era possível que o sangue de touros e de bodes tirasse [realmente] pecados’, conforme indica o apóstolo. (He 10:1-4) Aqueles sacrifícios animais representativos tinham de ser de espécimes sem mácula, perfeitos. (Le 22:21) O verdadeiro sacrifício de resgate, um humano realmente capaz de remover os pecados, portanto, também tinha de ser perfeito, isento de mácula. Teria de corresponder ao perfeito Adão, e possuir a perfeição humana, se é que havia de pagar o preço de redenção que livraria a descendência de Adão da dívida, da incapacidade e da escravização a que foi vendida pelo seu pai original, Adão. (Veja Ro 7:14; Sal 51:5.) Somente assim ele poderia satisfazer a perfeita justiça de Deus, que exige igual por igual, “alma por alma”. — Êx 21:23-25; De 19:21.

A qualidade estrita da justiça de Deus tornava impossível que a humanidade fornecesse seu próprio redentor. (Sal 49:6-9) No entanto, isto resulta na magnificação do amor e da misericórdia do próprio Deus, no sentido de que Ele satisfez seus próprios requisitos a um tremendo custo para si mesmo, dando a vida de Seu próprio Filho para fornecer o preço de redenção. (Ro 5:6-8) Isto requereu que Seu Filho se tornasse humano para corresponder ao perfeito Adão. Deus realizou isso por transferir a vida de Seu Filho desde o céu para o útero da virgem judia, Maria. (Lu 1:26-37; Jo 1:14) Visto que Jesus não devia sua vida a nenhum pai humano que tivesse descendido do pecador Adão, e visto que o Espírito Santo de Deus ‘encobriu com sua sombra’ a Maria, evidentemente desde que ela concebeu até o nascimento de Jesus, Jesus nasceu isento de qualquer herança do pecado ou da imperfeição, sendo, por assim dizer, “um cordeiro sem mácula nem mancha”, cujo sangue podia revelar-se um sacrifício aceitável. (Lu 1:35; Jo 1:29; 1Pe 1:18, 19) Ele manteve esse estado isento de pecados por toda a vida, e, assim, não se desqualificou. (He 4:15; 7:26; 1Pe 2:22) Como ‘partícipe de sangue e carne’, ele era um parente próximo da humanidade, e possuía a coisa de valor, sua própria vida perfeita, conservada pura através de provas de integridade, com a qual podia resgatar a humanidade, emancipando-a. — He 2:14, 15.

O Novo Testamento torna claro que o livramento do pecado e da morte é, deveras, efetuado mediante o pagamento dum preço. Diz-se que os cristãos foram “comprados por um preço” (1Co 6:20; 7:23), tendo um “dono que os comprou” (2Pe 2:1), e Jesus é apresentado como o Cordeiro que ‘foi morto e que com o seu sangue comprou pessoas para Deus, dentre toda tribo, e língua, e povo, e nação’. (Ap 5:9) Nestes textos, emprega-se o verbo a·go·rá·zo, significando simplesmente “comprar no mercado [a·go·rá]”. O termo aparentado, e·xa·go·rá·zo (libertação pela compra), é empregado por Paulo ao mostrar que Cristo libertou “por meio duma compra os debaixo de lei”, mediante sua morte no madeiro. (Gál 4:5; 3:13) Mas a idéia de redenção ou de resgate é mais frequente e mais plenamente expressa pelo termo grego lý·tron e outros termos aparentados.

Lýtron (do verbo lý·o, que significa “livrar”) era empregado especialmente pelos escritores gregos para referir-se a um preço pago para resgatar prisioneiros de guerra ou para livrar os que estivessem em servidão ou em escravidão. (Veja He 11:35.) Em suas duas ocorrências bíblicas, descreve o dar Cristo “a sua alma como resgate em troca de muitos”. (Mt 20:28; Mr 10:45) A palavra aparentada antílytron aparece em 1 Timóteo 2:6. A obra Greek and English Lexicon to the New Testament (Léxico Grego e Inglês do Novo Testamento), de Parkhurst, diz que significa: “um resgate, preço de redenção, ou, antes, um resgate correspondente”. Ele cita Hyperius como dizendo: “Significa corretamente um preço com o qual se redimem do inimigo os cativos; e aquela espécie de troca em que a vida de um é remida pela vida de outro.” Ele conclui por dizer: “Por isso, Aristóteles usa o verbo [antilytróo] para remir vida com vida.” (Londres, 1845, p. 47) Destarte, Cristo “se entregou como resgate correspondente por todos”. (1Ti 2:5, 6) Outras palavras aparentadas são lytróomai, “livrar por resgate” (Tit 2:14; 1Pe 1:18, 19), e apolýtrosis, “livramento por meio de resgate”. (Ef 1:7, 14; Col 1:14) É evidente a similaridade do emprego destas palavras com o dos termos hebraicos considerados. Eles descrevem, não uma compra ou um livramento comum, mas uma redenção ou um resgate, uma libertação efetuada pelo pagamento de um preço correspondente.

Embora disponível a todos, o sacrifício de resgate de Cristo não é aceito por todos, e “o furor de Deus permanece” sobre os que não o aceitam, assim como também sobrevém aos que de início aceitam tal provisão, e depois a repudiam. (Jo 3:36; He 10:26-29; contraste isso com Ro 5:9, 10.) Eles não obtêm nenhum livramento da escravização aos Reis Pecado e Morte. (Ro 5:21) Sob a Lei, o assassino deliberado não podia ser resgatado. Adão, por seu proceder deliberado, trouxe a morte sobre toda a humanidade, sendo por isso um assassino. (Ro 5:12) Assim, a vida de Jesus, oferecida em sacrifício, não é aceitável a Deus como resgate para o pecador Adão.

Mas Deus se agrada de aprovar a aplicação do resgate para remir aqueles que, dentre a descendência de Adão, valem-se de tal livramento. Conforme Paulo expressa: “Assim como pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos pecadores, do mesmo modo também pela obediência de um só muitos serão constituídos justos.” (Ro 5:18, 19) Por ocasião do pecado de Adão e de ser ele sentenciado à morte, a descendência ou raça dele estava toda por nascer, em seus lombos, e, assim, todos morreram junto com ele. (Veja He 7:4-10.) Jesus, como homem perfeito, “o último Adão” (1Co 15:45), possuía uma raça ou descendência por nascer em seus lombos, e, quando morreu inocente, como perfeito sacrifício humano, esta raça humana em potencial morreu junto com ele. Ele voluntariamente se abstivera de produzir uma família para si mesmo, mediante a procriação natural. Em vez disso, Jesus utiliza a autoridade que Deus lhe concedeu, à base do seu resgate, para dar vida a todos os que aceitam esta provisão. — 1Co 15:45; compare isso com Ro 5:15-17.

Assim, Jesus era, deveras, um “resgate correspondente”, não para a redenção do pecador Adão, mas para a redenção de toda a humanidade que descendia de Adão. Ele a resgatou, de modo que se tornasse sua família, fazendo isto por apresentar o pleno valor de seu sacrifício de resgate ao Deus de absoluta justiça, no céu. (He 9:24) Desta forma, ele obtém uma Noiva, uma congregação celestial composta de seus seguidores. (Veja Ef 5:23-27; Re 1:5, 6; 5:9, 10; 14:3, 4.) As profecias messiânicas também mostram que Ele terá uma “descendência” como “Pai Eterno”. (Is 53:10-12; 9:6, 7) O inteiro arranjo manifesta a sabedoria de Yehowah, e Sua justiça, ao equilibrar perfeitamente a balança da justiça, enquanto demonstra graça imerecida e perdoa os pecados. — Ro 3:21-26.